Filipe Lot

30/05/2017

Debatendo sonhos

    Comecei a tomar consciência de mundo no começo de 2013, quando li “De Pernas para o Ar – A Escola do Mundo às Avessas”, de Eduardo Galeano; estava no segundo ano do curso técnico de Comércio Exterior, que cursava junto ao Ensino Médio. Assim, passei a frequentar o Grupo de Debates da escola; lembro que a Crise da Síria acabava de começar e foi esse um dos primeiros temas que eu discuti no grupo. Tínhamos debates semanais, nos quais cada aluno incorporava a visão de um determinado país sobre um determinado tema a ser tratado num determinado comitê (Conselho de Segurança, por exemplo). 

    Quando percebi, já estava completamente imerso, ao ponto de correr para a sala de casa quando começavam as reportagens sobre geopolítica do telejornal que meus pais assistiam. O caminho foi se construindo naturalmente até as Simulações (fóruns/competições de debate) na região de Campinas, minha cidade natal; a delegação do meu colégio representou as posições da França na edição inaugural do FAMUN na primeira vez que debati fora da escola. Em seguida, nós do Grupo de Debates passamos a frequentar as Simulações de São Paulo, como a SiEM e o SPMUN. 

    Continuei profundamente envolvido nessas simulações acadêmicas após entrar na UFSCar, em 2015, e me mantenho assim até hoje. Porém, atualmente estou me dedicando mais à elaboração dos comitês nos quais os alunos secundaristas debatem, como, por exemplo, a Conferência de Versailles (1919) e o Plano Real (1994). Minha relação com esse universo de debates tornou-se tão profunda ao ponto de que hoje tenho plena convicção que moldei o modo como vejo o mundo à minha e volta e escolhi minha carreira graças às experiências que tive nesses fóruns.

 

 

        Foi graças a esse forte envolvimento e esforço que, no final de 2015, fui selecionado para representar o Brasil na sede da ONU em Nova York. Lá participei de uma conferência no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas: “Os Modelos de Negociação e Soluções Cooperativas de Problemas”; com certeza uma das minhas maiores conquistas até hoje. Foi minha primeira viagem internacional e o fato de ter ido apenas com meus amigos, sem ninguém da família, tornou a experiência ainda mais marcante. Desde a ansiedade de passar pela imigração, o táxi amarelo e as expectativas [leia-se apreensão] até chegar no hotel reservado pela internet.

    Tenho plena certeza de que somos fruto das nossas experiências. Dos livros que lemos, filmes que assistimos, músicas que ouvimos, pessoas que convivemos, lugares que visitamos etc., e por isso, em Nova York, além dos dias que passei na ONU, não pude deixar de conhecer a região de Wall Street. E é nessa aparente dualidade entre uma visão de mundo mais humanitária e o Mercado Financeiro que eu me encontro; seja fazendo parte da organização estudantil que talvez mais ajuda diretamente os membros da comunidade universitária em que atua, seja perseguindo meu próximo sonho: trabalhar no Banco Mundial ou em outro braço econômico da ONU, como a CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).