João Victor Binatto
Sempre odiei a pergunta: "qual a sua característica mais marcante?", pois ela trazia uma realidade muito cruel: eu não me conhecia! Com o passar do tempo comecei a perceber que de todas as características que pensava ter, uma delas estava presente em quase todos os momentos da minha vida: a ambição. E a princípio eu não me sentia confortável com essa percepção, pois eu queria dar passos maiores do que as pessoas esperavam. Minha vida foi pautada em sempre querer ir mais longe, mas isso me levou a uma série de grandes e consecutivos fracassos. Entretanto, todas essas estradas que percorri não foram em vão, pois muitas delas me ensinaram lições profundas e únicas.
A experiência que quero trazer hoje é algo que eu aprendi “sem querer” durante os meus estágios no Private Bank do Itaú. De todas as situações na minha vida esse foi um dos momentos em que eu estava mais desprevenido. Apesar de empolgado, meus conhecimentos sobre a área tendiam a zero, porque eu não era capaz de acompanhar a mais simples conversa na hora do cafezinho e, muito menos, entender o projeto que eu estava destinado a fazer no período de 2 meses. Confesso que o desespero foi grande e eu estava completamente focado em aprender o ABC da área, além do uso das ferramentas que nunca usaria para desenvolver.
Após toda a turbulência do início, o convívio com as pessoas da minha área foi se estreitando, porém as conversas de almoço continuavam uma grande incógnita para mim e as minhas funções ainda se baseavam em criar um programa para a empresa exatamente do modo que foi requisitado. Isso mudou quando o porquê começou a me incomodar, ou seja, qual era o motivo, quais as necessidades e o quão importante era cada parte do programa. Essas atitudes começaram a me fazer muito mais ativo no desenvolvimento do projeto e muito mais confiante para propor mudanças que iam de nível técnico ao nível prático. Foi um sentimento gratificante dentro daquele seleto grupo de profissionais capacitados ter a sua voz ouvida e suas opiniões aderidas em decisões que iriam repercutir por muito tempo nas atividades diárias.
Entretanto o que disse logo acima, não deve soar como novidade para ninguém, termos como: proatividade, trabalho em equipe e preparação devem constar no “Manual do novato”. Com o passar do tempo percebi que em alguns momentos os assuntos deslizavam para áreas que eu tinha mais familiaridade. Um deles era a tal hora do café, que antes era a hora que eu me sentia mais incomodado. Nesses momentos graças a minha habilidade nata de “falar pelos cotovelos”, as atenções eram centradas em mim, eu era o “especialista”. Assim surgiu a oportunidade de reconhecer a possibilidade de construir credibilidade, ou seja, é essencial que você tenha certeza do que está falando, pois é um momento onde você é capaz de ser reconhecido por outras expertises e valores, uma oportunidade de deixar de ser o peso para começar a ser o protagonista.
Para finalizar, lembrem-se que quando chegamos a um local novo, normalmente temos o impulso de querer competir com os melhores da área ou revolucionar o método de trabalho, tentando causar um grande impacto em pouco tempo. O que nos esquecemos é que cada um tem uma trajetória e na maioria das vezes nos deparamos com pessoas mais bem preparadas que estão a anos exercendo aquela função. Entretanto, também nos esquecemos de que elas são pessoas: ninguém consegue ser especialista em tudo. Saber explorar os pontos fracos, trazer soluções criativas ou inovadoras irão te ajudar a criar credibilidade e respeito entre seus pares desde seus passos iniciais no mercado de trabalho.