Laura Boscolo

07/09/2017

Nada acontece por acaso

      Todo mundo já ouviu a frase “nada acontece por acaso” alguma vez na vida. Eu gosto de pensar que algumas coisas acontecem, sim, pelo acaso; mas o acaso não nos traz resultados efetivos, se não colocarmos um barril de esforço e um pingo de insanidade em cada coisa que nos propomos a fazer. Percebi isso no meu ensino médio.

      Por acasos da vida, durante o meu ensino fundamental, uma amiga me falou sobre colégios técnicos, e, mais especificamente, sobre um colégio muito famoso em Campinas, o COTUCA. Fui visitar esse colégio um tempo depois, e decidi que queria fazer parte de lá. Eu sabia que teria que abrir mão de algumas coisas que eu amava fazer, mesmo assim aceitei o desafio e acabei conquistando minha vaga no curso de informática.

      No final do segundo ano, surgiu o desafio de fazer o Trabalho de Conclusão de Curso. Assim que escolhi meu grupo, já começamos a pensar em possíveis temas. Tema vai, tema vem: foi numa caminhada até uma cantina, que decidimos que iríamos tentar montar um projeto na área de Educação.

      Nessa época um amigo comentou com a nossa professora de português a ideia, e foi então que o projeto começou de fato. A professora se tornou nossa co-orientadora e, junto com a nossa orientadora, nos ajudou a fazer o projeto decolar. Nosso projeto se chamava Yarner e consistia em uma análise do uso de tecnologias em escolas, com o fim de criar um aplicativo de incentivo à leitura e escrita.

      Saindo da situação de não fazer a mínima ideia de como realizar uma pesquisa, como preencher um diário de bordo ou escrever um relatório, partimos para as feiras de ciências. Começamos em uma feira MUITO pequena, em Bragança Paulista. O acaso colocou uma menina muito inteligente, com uma pesquisa incrível, bem no estande do lado. Eu e meu colega de equipe, Rafael, começamos a chamá-la de “vizinha”; e a “vizinha” se tornou nossa inspiração por um bom tempo.

      Desde a feira de Bragança, pulamos de feira em feira, ganhando prêmios e credenciais para participar de outros eventos científicos. Até que chegamos à FEBRACE, a maior feira de ciências e engenharias do Brasil, e lá alguns projetos eram premiados com a credencial para a Intel lSEF, a maior feira que existe NO MUNDO, que acontece todos os anos nos Estados Unidos. A ISEF tomou o lugar da “vizinha”, e passou a ser nossa inspiração (e nosso alvo) todos os dias.

 

 

      Em 2015 participamos a primeira vez na FEBRACE, ganhamos alguns prêmios, mas não a credencial para a feira dos Estados Unidos. Isso nos desmotivou um pouco no início, mas nos ajudou a melhorar o nosso projeto para o segundo ano de FEBRACE, em 2016, ano em que saímos da feira com 5 prêmios, incluindo a credencial para participar da Intel ISEF! E foi então que milhares de coisas aconteceram, de forma muito rápida. Aí sim, tivemos a insanidade de acreditar que tudo ia dar certo no final, que conseguiríamos terminar todas as nossas responsabilidades a tempo para a ISEF. E foi o que aconteceu.

Embarcamos para os Estados Unidos, conhecemos pesquisadores apaixonados, orientadores incríveis, e pessoas que trabalharam muito para realizar o sonho daqueles pesquisadores de apresentarem seus 18 projetos fora do Brasil.

      Depois de muito treino, apresentamos nosso projeto em inglês para especialistas da área, tivemos contato com inúmeras outras culturas e pudemos, inclusive, conhecer ganhadores do prêmio Nobel.

Saímos da ISEF com quatro prêmios, e a partir de então, nosso projeto ficou cada vez mais reconhecido. O meu projeto mudou a minha vida, e me trouxe experiências que nunca imaginei ter. Tudo o que eu vivenciei e todas as amizades que eu fiz durante esse trajeto continuam no meu dia a dia até hoje.

      Diante dessa trajetória, descobri que temos que nos desafiar sempre e que não é possível ir tão longe sozinho. Tudo o que contei não seria verdade, se o acaso não tivesse me presenteado com pessoas dispostas a cuidar do nosso projeto com o mesmo carinho que eu e o Rafael tivemos com ele.

      Hoje faço parte da Liga de Mercado Financeiro, que me apresentou pessoas com muita paixão por desenvolvimento e dispostas a contribuir para os projetos pessoais e profissionais de cada um dos membros. Pessoas essas que já tomaram o lugar da “vizinha”, ou mesmo da ISEF, ao serem minha inspiração no dia a dia.

       Sei que tenho outros infinitos desafios pela frente, mas se tem algo que aprendi nesses 19 anos que eu já vivi é: todo acaso pode virar oportunidade. Uma caminhada. Uma conversa informal. Uma feira pequena. Uma “vizinha”. Qualquer coisa ou pessoa tem a chance de nos trazer algo bom. Por isso, abrace a oportunidade do acaso, mas nunca se esqueça de carregar a coragem e esforço necessários.